Uma vez disseram-me que temos que saber escolher o momento certo para fazer/dizer determinadas coisas, senão elas não fazem qualquer sentido. Durante muito tempo acreditei nisso e baseei-me nessa permuta, e verdade seja dita: ou sou eu que não tenho grande sensibilidade para me aperceber da chegada do dito momento, ou então o meu sentido de oportunidade é pouco, porque saí-me sempre mal. "Mas afinal quando é que chega a merda do momento certo? É agora? Mas então e se não for?" E com estas dúvidas uma pessoa vai adiando o que tem a fazer, sempre receosa de optar pelo momento errado e estragar tudo, causando danos irreparáveis. E depois, quando estamos absolutamente certos de que chegou o momento, inspiramos profundamente e desengasgamos as palavras que traziamos entaladas na garganta durante tanto tempo, o nó desfaz-se. E depois? Depois resta-nos um vazio na garganta, e chegamos à conclusão que afinal o momento certo já tinha passado por nós, sem sequer nos apercebermos disso, e que ao fim e ao cabo ao deixá-lo passar acabámos por estragar tudo na mesma, e os danos estão causados, não há nada que os emende mais.
Mas será que é mesmo assim? Será que existe mesmo um momento certo, onde o que quer que se diga ou faça tenha um significado multiplicado? Chamem-me o que quiserem, mas cada vez mais acho que o cabrão que me disse isso um dia enganou-me a sério, e quem lhe disse isso a ele também o enganou muito bem. E depois isto torna-se um ciclo vicioso, e se formos bem a ver, encontrámo-nos todos de olhos vendados durante este tempo todo.
Eu acho que tudo isto é fruto do medo. Do medo de abrir a boca, de vomitar o que há a dizer. Do medo de errar, do medo de fazermos o que não devemos. Do medo de perder, até aquilo que nunca tivemos. Nada mais nada menos, o medo. É ele que nos impede de agir, e é a partir dele que arranjamos na nossa cabeça uma desculpa que é sempre mais fácil do que admitir que temos receio, criando o tal momento certo, quando na realidade não existe tal coisa. Existe sim coragem, confiança, segurança. Todas essas coisas que nos ajudam a ultrapassar esse medo que nos pode consumir mais rapidamente do que o bolor consome uma peça de fruta.
No fundo, é esta a resposta a este problema. Não existe momento certo. Existem escolhas certas, existe coragem de mandar o medo à merda. E no fundo, na realidade, a culpa não é do medo. A culpa é das pessoas.
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